É com muito prazer que anunciamos O Brotar de Viventes Daninhos e Outras Pragas Sagradas, a terceira exposição individual de Magda Delgado na galeria.
INAUGURAÇÃO
4ª Feira , 11 de Junho | 19 – 21.30 H
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DURAÇÃO
11.06 – 25.06.2025
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Sem surpresa, porque o insolúvel lhe pertence, o sincretismo cultural dos mitos da antiguidade sobre os princípios e os fins deixa por resolver o destino do corpo do ser-humano no dia em que o infinito se revela. Sobre o dos pervertidos, que sequer atinge o limbo, há de dizer-se que é apodrecido, afogado, queimado, devorado, em círculos infernais ordenados consoante o crime cometido. Sobre o dos virtuosos, há de cintilar no cosmos, já espírito, libertando-se da corporalidade maldita, ou há de perdurar na terra, ainda matéria, saciando-se de monstros originais. Embora segundo vias distintas, ambas as tradições – a gnóstica e a messiânica – visam a reconciliação do ser-humano com o que lhe é inerente e originário. O dia do fim é profetizado enquanto aquele em que, alegoricamente, o corpo humano retoma, até, o semblante animal.
INAUGURAÇÃO
4ª Feira , 11 de Junho | 19 – 21.30 H
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DURAÇÃO
11.06 – 25.06.2025
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Sem surpresa, porque o insolúvel lhe pertence, o sincretismo cultural dos mitos da antiguidade sobre os princípios e os fins deixa por resolver o destino do corpo do ser-humano no dia em que o infinito se revela. Sobre o dos pervertidos, que sequer atinge o limbo, há de dizer-se que é apodrecido, afogado, queimado, devorado, em círculos infernais ordenados consoante o crime cometido. Sobre o dos virtuosos, há de cintilar no cosmos, já espírito, libertando-se da corporalidade maldita, ou há de perdurar na terra, ainda matéria, saciando-se de monstros originais. Embora segundo vias distintas, ambas as tradições – a gnóstica e a messiânica – visam a reconciliação do ser-humano com o que lhe é inerente e originário. O dia do fim é profetizado enquanto aquele em que, alegoricamente, o corpo humano retoma, até, o semblante animal.
Cisão e reunião pertencem à questão escatológica. A história não é mais do que a teleologia obstinada do fazer e do saber que nega, por meio de que o ser-humano é o que é. Consumados toda a predação e a voragem, toda a ferocidade e a ruína, toda a corrupção e a supremacia, todo o esquecimento e a sofisticação, o dia do fim anuncia o encerramento do ciclo e a confirmação apostatastásica, em que os corpos celestes recuperam a posição natural nos céus e o estado primordial entre todas as coisas e todos os seres no mundo é reinstaurado. Em alguma eternidade pós-histórica, o ser-histórico é cancelado e retoma a espiritualidade e a bestialidade. Magda Delgado partilha impressões sobre o que subjaz em O brotar de viventes daninhos e outras pragas sagradas: “uma ode à vida, com a morte sempre atrás da cortina, surgindo”.
É assombroso examinar quão justo é o caminho do justo. O problema que encanta é a inescapabilidade à aporia irresolúvel…. Hesita-se entre a misantropia e a antropofilia. E, perante a impossibilidade de ambas, resta o desconsolo pelos sóis que não brilham na órbita, enquanto vive o que mata? A cisão ocorre só e é própria só do ser-humano no seu sendo ser-histórico, em que é o que é; e a reunião, em que deambula sem tempo e sem espaço, alheado do espírito e do corpo, em que nada mais lhe resta e não é o que é, sequer lhe é natural. Isto é, em O brotar de viventes daninhos e outras pragas sagradas, importa mais compreender o problema da história do que procurar a resposta na eternidade, pois o ser-humano é, inexoravelmente, lugar de tensão com o mundo e, sobretudo, consigo, em que a separação entre humano e animal, afinal, tende a anular-se tanto quanto a continuar-se.
RICARDO ESCARDUÇA
Junho de 2025
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MAGDA DELGADO
O Brotar de Viventes Daninhos e Outras Pragas Sagradas
11.06 – 26.07.2025
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Texto de exposição : Ricardo Escarduça
Fotografia : Bruno Lopes
Video : João Silva
Montagem: André Tasso