É com muito prazer que anunciamos ST #17641, a primeira exposição individual de Rui Neiva na galeria !
INAUGURAÇÃO
3ª Feira , 26 de Março | 20 – 23 H
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DURAÇÃO
26.03 – 25.05.2024
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INAUGURAÇÃO
3ª Feira , 26 de Março | 20 – 23 H
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DURAÇÃO
26.03 – 25.05.2024
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Luísa Soares de Oliveira
texto de exposição
Ao olhar para a série de obras de Rui Neiva vem-me de imediato à memória um plano de A Gruta dos Sonhos Perdidos, filme de Werner Herzog de 2012, no qual os arqueólogos que estudavam as pinturas pré-históricas da gruta de Chauvet mostravam uma reconstituição do processo de pintura de determinada parede. Nele, via-se a silhueta de um homem de pé, de estilete na mão, a desenhar o perfil de uma cabeça de cavalo. A arqueóloga explicava que a obra teria sido feita por uma pessoa com cerca de 1,80 m de altura.
Muitos milhares de anos depois, há muita coisa que não mudou no processo de pintar. A mentalidade e aquilo que pensavam os homens do Paleolítico está-nos definitivamente vedada. Mas hoje, tal como sempre aconteceu desde que se desenhou qualquer coisa numa superfície, o trabalho está dependente dos limites físicos do corpo de quem o faz, e da capacidade de inventar utensílios que aumentem as nossas exíguas capacidades. Sem o estilete besuntado de carvão, o autor das pinturas nas paredes da caverna não chegaria tão alto como chegou. Sem a luz dada por um archote, não conseguiria ver o suporte nos recantos mais profundos da caverna. Tal como afeiçoava pedras de sílex em forma de seta para caçar, criou os meios de que precisava para desenhar.
Hoje, a obra de Rui Neiva procede da consciência muito nítida de algo semelhante, e isto apesar dos séculos que a separam desses tempos primeiros da longuíssima caminhada humana. Revela-se, no seu trabalho, um impulso primordial: a manifestação da necessidade de criar determinado objecto, de concretizar dada pintura; e a procura incessante dos meios técnicos para a tornar possível. E esta manifestação coexiste também com a liberdade que a matéria fluida da pintura possui para se manifestar tal como ela verdadeiramente é , antes de o artista a sujeitar aos limites da forma ou, mesmo, da representação. Como sempre aconteceu.
Um dos sinais deste impulso primordial são os delicados desenhos feitos com o auxílio de uma lupa que, posicionada na direcção dos raios solares, queima o papel. Lembremo-nos que a origem mítica do desenho, segundo os gregos, residia na sombra projectada numa parede, fixada com um traço pela jovem noiva que queria recordar para sempre o seu amante; de certo modo, ele já era então, como aqui sucede, um resultado da acção dos raios solares. Por outro lado, quanto às pinturas, elas adquirem o estatuto de objecto, mostrando-se em grelhas engenhosamente dispostas no espaço da galeria de modo a envolver o observador na sua contemplação. Tal como outros prestigiados artistas antes dele – Robert Morris é um nome que imediatamente associamos a esta obra, mas Rothko também não anda longe dela -, Rui Neiva visa a criação de uma instalação total que vai captar o observador na contemplação da riqueza cromática e física de cada obra, e mesmo da totalidade do espaço envolvente.
Assim, há neste trabalho uma componente rigidamente planeada, pensada, materializada. A visita ao atelier do artista põe-nos perante um mundo de aparelhos fabricados para levantar, baixar, deslocar pinturas de escala considerável dentro do lugar, e outros, que funcionam como trincha ou pincel para a aplicação da tinta. Rui Neiva, a par de uma formação avançada em artes plásticas, é também engenheiro, e as afinidades entre todos os aparelhos que constrói para materializar a sua obra e as invenções de um Duchamp (ou um Tinguely, outro inventor de obras de arte que recorriam à técnica e à mecânica) não são de todo fortuitas. Duchamp, esse mesmo a quem se chamou “engenheiro do tempo perdido”, e que montava rodas de bicicleta sobre bancos para criar efeitos visuais no canto do atelier…
Há também uma roda de bicicleta no atelier de Rui Neiva, e ele conta-nos que essa, com outros aparelhos que produzem movimento, são usados para a aplicação da pintura no seu trabalho. E é aí que a razão, o planeamento é deixado de lado para dar lugar ao acaso. Pelo branco, a primeira cor a ser colocada na tela, e que vai surgir depois sempre por subtracção; pelas três primárias, as únicas que usa e que combina em infinitas variações tonais, Rui Neiva deixa entrar na sua obra o que não controla, o que se aproxima do indizível e, porque não dizê-lo, do inefável. Se a extensão da mão - o utensílio que pinta – é sempre fabricado por si, tenha a complexidade que tiver, na aplicação da cor a primazia é dada ao que não cabe nem nas palavras com que falamos, nem sequer na totalidade de uma descrição. Este é, realmente, o lugar da pintura.
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RUI NEIVA
ST# 17641
26.03 – 25.05.2024
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Texto : Luísa Soares de Oliveira
Fotografia de exposição : Bruno Lopes
Video : João Silva
26.03 – 25.05.2024
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Texto : Luísa Soares de Oliveira
Fotografia de exposição : Bruno Lopes
Video : João Silva